“Eles têm que ter a oportunidade e a sociedade tem que dar oportunidade para todos, porquetodos têm condições de aprender”, afirma a professora de Educação Especial de Belém, Pedrina Quaresma, após realizar atendimento do aluno Igor Diniz, de 5 anos, da Escola Municipal Maria Lúcia Soares de Castro. Igor foi diagnosticado comTranstorno do Espectro Autista(TEA) quando tinha 2,5 anos.
A mãe do estudante, Maria Diniz, relembra o quanto foi difícil no começo. Igor chorava muito e não aceitava fazer as atividades da escola, quando entrou na turma do berçário, antes do diagnóstico. Após a confirmação do TEA, ele começou a receber oAtendimento Educacional Especializado (AEE).
“Ele se desenvolveu muito aqui na escola com os coleguinhas. Elenão conseguia se concentrar, ele ficava correndo… A diferença é muito grande, principalmente na comunicação dele. Antes ele se comunicava e a gente não entendia. E hoje é bem claro, a gente consegue entender. Issomudou a vida dele completamente. E eu espero que isso nunca mude, não só aqui como em qualquer outra escola, que tenha sempre essa educação especial para todas as crianças que precisam”, pede a mãe.


Previsto na Constituição Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o AEE é o conjunto deatividades didático-pedagógicas, desenvolvido porprofissional qualificado, para assegurar aplena participação dos estudantes no processo de aprendizagem. Realizado prioritariamente nas salas de recursos multifuncionais da própria escola, as atividades não substituem a escolarização, mas complementam e/ou suplementam a formação dosalunos com deficiência.
Na Escola Maria Lúcia Soares de Castro, a sala de recursos multifuncionais tem um diferencial: boa parte dos recursos didático-pedagógicos sãoconfeccionados artesanalmente pela professora Pedrinae o marido dela, a partir de materiais reaproveitados. Tampas de garrafas, restos de madeira, caixas de papel, isopor e outros objetos que iriam para o lixo, ganham cor e viram ferramentas de aprendizagem.


No atendimento com Pedrina, Igor, aluno do Jardim II, mostra que já estápreparado para ir para o Ensino Fundamental: conhece as letras, as cores, sabe ler e escrever o próprio nome e demonstra raciocínio aguçado na hora de fazer as atividades propostas.
“Como são crianças do Ensino Infantil, todos os trabalhos têm que ser lúdicos, com material pedagógico que a criança goste, que elase sinta beme com o qual ela possacriar e ficar à vontade”, comenta a professora.

Ter umaequipe preparadapara conhecer ascaracterísticas da deficiência e especificidades de cada estudante, saber ouvir e acolher o aluno e sua família, é um diferencial fundamental para aplena inserçãodeles na escola e assegurar o aprendizado.
Na Escola Benvinda de França Messias, o acolhimento foi o determinante para o desenvolvimento do aluno Arthur Borges, de 9 anos, do 3º ano. Ele também tem TEA, além de transtorno bipolar e, segundo a mãe, antes de estudar ali, era muito agitado e não conseguia interagir com outras crianças. “Ele não ficava em sala de aula, era inquieto. E hoje eleteve uma evolução”, relata a mãe, Nathália Borges.
Nathália é mãe solo do Arthur, que tem uma irmã mais nova. Ele teve o diagnóstico aos 6 anos. ”Quando eu descobri, para mim foi difícil, porque eu achava que eu não ia saber lidar. Foi umgrande desafio”, relembra. Hoje ela tem na escola o apoio, tanto naeducação, como nodesenvolvimento afetivodo filho.
“O Arthur é muito querido aqui. Por toda a equipe. Desde a portaria, na diretoria, em sala de aula… Então eu tenho umasegurança na escolaporque aescola abraça ele. Eu fico em paz porque sei que ele tá sendobem cuidado por todos”, comemora Nathália.

“É umacaracterística da nossa escolaesse acolhimento das crianças com deficiência. E eu tenho um carinho muito grande pelo Arthur, já fiz outras atividades com ele aqui. A gente sempre teve um cuidado de não aglomerar muito, para ter esse cuidado com as crianças autistas, que têm sensibilidade ao barulho, e ele já foi lá na frente fazer apresentação, falou sobre a água… Ele já participou de peças teatrais, tudo adaptado para ele”, comenta a professora Leidiane Rodrigues.
Arthur não hesitou em responder ao carinho da professora: “Eu gosto da Leide [professora Leidiane], gosto da diretora, da minha acompanhante… Amo elas. Eu amo estudar, aprender letras, a, b, c, d… É umaescola especial”, afirmou.

A Rede Municipal de Educação de Belém conta hoje com4.215 estudantes com deficiência ou altas habilidades/superdotação, além daqueles em processo de avaliação para fechamento de diagnóstico.
Parapromover e fomentar a inclusãodesses alunos, e garantir seu direito à educação, em 2013 foi criado oCentro de Referência em Inclusão Educacional “Gabriel Lima Mendes”(CRIE), vinculado à Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia (Semec).
O CRIE é responsável por garantir aformação continuada em educação especialde docentes e dos demais profissionais da educação do município. Segundo a coordenadora do CRIE, Nilma Machado, é necessáriopreparar a rede para atuar com os estudantes que possuem deficiência ou altas habilidades/superdotação.
“Costumo dizer que, para trabalhar com educação,precisa gostar de gente. Para trabalhar com educação especial, mais ainda”, comenta a coordenadora.

Nilma explica ainda, que o CRIE é encarregado de planejar a implementação de novas salas de recurso multifuncional; de preparar os recursos humanos, como acompanhantes especializados e estagiários que atuam no AEE; de avaliar os espaços físicos das escolas para a adaptação às necessidades especiais dos estudantes. Além disso, realiza avaliação multiprofissional dos estudantes; cursos livres na área e cursos para mães atípicas; realiza ações em datas comemorativas, dentre outras atividades para ainclusão e a acessibilidade na educação.
NoDia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado neste dia 3 de dezembro, a professora Pedrina Quaresma, com 42 anos de experiência na educação, lembra que todas as crianças têm direito à educação, o direito de aprender e de estar na sociedade. “É direito de todo ser humano. E todas as crianças com deficiência são seres humanos. A gente tem que olhar para a criança e não colocar a deficiência na frente dela, e sim colocar a Ana, a Júlia, a criança que ela é, e tratar ela como criança e dar a ela todas as oportunidades”, conclui a professora.
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